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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Liberdade: Capela dos Aflitos e Capela dos Enforcados

E aí Galera! vou começar a mostrar pra vocês o que andei fazendo a semana que estive em São Paulo nas minhas férias. Chegamos lá num domingo as sete da manhã e assim que deixamos as malas em casa fomos direto pro bairro Liberdade. Minha sogra, a Ilth, trabalha em uma pequena e bem interessante capela que fica no fim do Beco dos Aflitos na Liberdade, a Capela dos Aflitos, e vou mostrar um pouco dela pra vocês.



Esse texto a seguir conta um pouco da história da Capela e foi retirado da página da Capela dos Aflitos no Facebook. Clica AQUI pra curtir! Lá você encontra mais fotos e mais histórias sobre a Capela. Os textos são grandes, impossível de resumir, mas tenho certeza que você irá adorar as histórias.

Beco dos milagres
Destruída pelo tempo e por um incêndio, a Capela dos Aflitos é local de pedidos a Chaguinhas.

Sob a penumbra, uma senhora idosa clamava: “Aflita se viu Maria aos pés da cruz, aflita me vejo hoje, salvai-me, ó mãe de Jesus”. A mulher estava ajoelhada diante da imagem de Nossa Senh0ora, ao lado da porta onde há uma placa em memória de Chaguinhas, um santo popular.

Escondida num beco do bairro oriental da Liberdade, a Capela Nossa Senhora dos Aflitos foi construída em 1779, na época em que o Brasil era colônia portuguesa (a independência foi proclamada apenas 43 anos depois). No local, quatro anos antes, fora inaugurado o primeiro cemitério público de São Paulo.

Destruída pelo tempo e por um incêndio na década de 1990, a pequena igreja não tem capacidade para receber mais de duas dezenas de fiéis, estes que costumam “lotar” o templo nas celebrações das missas com intercessão de Chaguinhas.

Sem nenhum milagre reconhecido pelo Vaticano e nenhum processo para que isso aconteça, católicos se perdem entre as ruas da cidade para bater três vezes na porta onde há a placa anunciando a morte de Francisco José das Chagas. Ele era um cabo brasileiro, que liderou uma revolta contra a falta do pagamento aos militares (chamado soldo). Por essa razão foi preso e morto em praça pública.

“A condenação de Chaguinhas foi um marco na cidade”, conta Ilth Maria, secretária da igreja. A lenda diz que, ao ver o corpo desabar da forca, a multidão reunida gritou “Liberdade!” e aí surgiu o nome do bairro.

“Muitas pessoas vêm aqui para agradecer e pagar promessas”, conta Ilth, no momento em que um senhor fazia um ritual de “sinais da cruz” sobre a testa, a boca e o lado esquerdo do peito, numa oração silenciosa que significa: “Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos, Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos”. Com lágrimas nos olhos, ele faz uma reverência ao altar, se despede da secretária e vai embora. Momentos depois, retorna com café e pão e os entrega a um morador de rua, que observa todo o movimento da capela, atentamente, do lado de fora.

Uma porta descascada com a placa da morte de Francisco das Chagas também é local de ritual religioso: “A pessoa bate três vezes na porta, faz o pedido e a promessa. Há certa emoção e certeza de que será realizado”. Apesar do tempo e do incêndio, a porta resiste aos dias.

Apenas a base do altar e alguns outros detalhes do estilo barroco do interior da construção sobreviveram às chamas, que tomaram conta do igreja dos Aflitos, local que foi tombado como patrimônio histórico de São Paulo.

Com a degradação de toda a estrutura da capela, um projeto foi criado para a restauração total. Foi aprovada pelos órgãos responsáveis pelo patrimônio histórico e enviada ao Ministério da Cultura uma solicitação de R$ 1,5 milhão.

Desde outubro de 2011, quando o projeto foi enviado, até agora, nenhuma empresa se disponibilizou a contribuir com a Lei Rouanet, que beneficia a Capela dos Aflitos.

Os problemas do pequeno templo, entretanto, não são apenas os da estrutura antiga. O sino da pequena torre não soa: foi fixado de uma maneira para que não seja roubado.

A igreja de Chaguinhas tem fama internacional, há placas de reconhecimento, por exemplo, da Espanha. “Pessoas que fizeram promessas, voltam aqui várias vezes por ano, porque tiveram a graça alcançada”, conta a secretária Ilth.








A Capela Nossa Senhora dos Aflitos, que fica próxima à Rua dos Estudantes, é aberta ao público de segunda a sexta-feira, com missa toda segunda as três da tarde.

foto: reprodução (não lembrei de tirar uma foto assim mostrando a capela no fim do beco)

Outra Capela que visitei foi a Capela dos Enforcados, que fica bem próximo a Capela dos Aflitos e também tem uma história interessante, que envolve as duas Capelas, dos Aflitos e dos Enforcados. Essa é grande, mas vale muito a pena ler.

Texto retirado do site: Revista SP http://revistasp.org/vip/?p=379

Paulo Cursino de Moura, em sua obra intitulada São Paulo de Outrora, págs. 91/97, nos conta a história que envolve a criação da Igreja dos Enforcados, o bairro da Liberdade e todo o sentimento que afligiu a população paulista à época. Onde hoje se situa a Praça da Liberdade, era, antigamente, o Largo da Forca, local onde eram executados os condenados, tanto antes da independência política, como posteriormente, quando vigorava a pena de morte, dada esta por asfixia pelo enforcamento.A substituição do nome Largo da Forca, que abalou e comoveu o São Paulo de séculos atrás, por Praça da Liberdade, que encanta pelo seu lindo ajardinamento, deu-se como uma homenagem à abolição da pena máxima no Brasil.
Uma das lembranças constantes, quando se evoca o passado do Largo da Forca, é a lenda, trágica e sentimental do Chaguinhas – Francisco José das Chagas, que ali foi executado em 1821. O martírio de Chaguinhas é contado de várias maneiras, porém, todos têm a convicção de que ele foi vítima de uma injustiça, por parte dos juízes que o condenaram. Um cronista antigo relata: – “ Por falta de pagamento dos seus soldos de 5 anos, os soldados do primeiro batalhão de caçadores, destacados em Santos, se revoltaram na noite de 27 para 28 de junho de 1821, sendo apontados como chefes dessa revolta os soldados Francisco José das Chagas ( Chaguinhas ) e Joaquim José Cotindiba, os quais depois de processados e condenados à morte, foram enforcados e sepultados, como todos os outros que sofreram igual suplício, no antigo Cemitério da Rua da Glória.”“ Em 1821 não havia forca nesta capital, tendo provavelmente se deteriorado e caído a que antes existia.Por carta régia de 23 de agosto de 1820 foi mandada instalar uma Junta de Justiça e, não podendo funcionar a mesma sem o apêndice, – um patíbulo, o governo expediu, para esse fim, em data de 23 de julho de 1821, um aviso ao Senado da Câmara para que mandasse levantar uma forca no lugar mais público desta cidade e vizinho do Cemitério geral, que era chamado Campo da Forca, e que ela fosse feita de madeira duradoura”.
Segundo o Autor Paulo Cursino de Moura, na obra citada, conta a lenda que na manhã de 20 de setembro de 1821, o cadafalso está armado no largo. Sobre ele a forca, o trágico triângulo com uma das faces salientes de onde a corda macabra balança.Ao rufo de tambores e sons de clarins, a escolta chega. O tropel dos soldados é lento, contínuo, surdo. A multidão em volta, na expectativa ansiosa pelo espetáculo, compungida, tem curta e opressa a respiração. Dois são os sentenciados desse dia – Joaquim José Cotindiba e Francisco José das Chagas, que vêm cabisbaixos. Depois da leitura da sentença, e após a exortação que a caridade edificante de um capuchinho sempre dispensa aos réus, sobe ao suplício o primeiro sentenciado Cotindiba. Dado o laço, o corpo cai no espaço, a multidão estremece e a lei é cumprida. Chega a vez do Chaguinhas. Perpassa pelo povo, mudo, uma emoção: a corda, quando o corpo do Chaguinhas é jogado ao ar, arrebenta. O escudeiro-mor, desapontado, ordena a sua substituição. Novo engaste, novo nó, nova caída, e a corda, pela segunda vez, arrebenta. Chovem pedidos de liberdade. O carrasco range os dentes, negando a solicitação pública. Colocado novamente no patíbulo, Chaguinhas tem um olhar místico e doce, das almas contristadas. Desse olhar nasceu a primeira irradiação da crença. Pela terceira vez, o algoz lança o pescoço do infeliz e, pela terceira vez, a corda se rompe. Então, a população diviniza o condenado e alguma coisa sobrenatural perpassa no ar parado daquela manhã fatídica. Só na quarta tentativa, o corpo do Chaguinhas balança inerte no instrumento de seu martírio. A prova da inocência está ali, na teimosia da corda em se negar ao mister do enforcamento, como se a rebelião contra a injustiça partisse da própria coisa inanimada. O povo assim entendeu, e hoje, tradicionalmente, ainda se venera o Chaguinhas, na convicção da sua inocência pelo atestado que a lenda nos revela, segundo o citado Autor.
Conta a lenda, ainda, que quando a terceira corda se rompeu, passava pelo local um tropeiro de nome Demétrio, o qual recebeu ordens do carrasco de dar um laço de couro cru, que o forneceu a contragosto, porém foi forçado a tal. Eis a lenda popular transformada em religiosa veneração. Sobre a indumentária do suplício, não é menos interessante a narrativa do passado: – “ Os réus, antes de serem enforcados, faziam retiro espiritual, esperando a hora fatal. Depois de comunicada a eles a sentença e feitas as exortações espirituais pelo sacerdote, subiam os pacientes os degraus do patíbulo, vestidos de camisola, sendo-lhes passadas as cordas ao pescoço, os braços atados e a cabeça e o rosto cobertos com um capuz, exercendo o carrasco a sua tristíssima função. Removida a tábua sobre a qual os infelizes pisavam, eram estes atirados ao espaço, comparecendo a esse horroroso ato uma multidão de espectadores de todas as classes sociais, atraídos ao lugar: uns pela curiosidade e interesse, e outros pela simpatia que lhes inspirava o desgraçado que ia ser supliciado. ”Por causa da convicção da inocência de Chaguinhas, nasceu o culto que se faz até hoje em sua memória na Capela da Santa Cruz dos Enforcados, no Largo da Liberdade, mantida por uma irmandade organizada em 1902, por D. Antonio Cândido de Alvarenga, então Bispo de São Paulo. A lembrança da história de Chaguinhas voltou à baila com a reconstrução da igrejinha. O que se sabe a respeito da devoção de Chaguinhas é que “ Olegário Pedro Gonçalves e Chico Gago foram os iniciadores da devoção que era mantida junto à Cruz levantada no terreno, isto há mais de cinquenta anos. Promoviam a reza no largo da Forca, que era assistida por grande número de devotos. O Chico Gago era criação da casa de um antigo marchante, conhecido pelo nome de Juca Frade e morador no mesmo largo. As primeiras festas em honra da Santa Cruz foram celebradas, antes da Abolição, por Antonio Bento e não tiveram mais interrupção.” A triste recordação moderna do largo da Forca reside no antigo cemitério dos Enforcados ou dos Aflitos.
O velho Beco dos Aflitos lá está, terminando na Capela do mesmo nome, cheio de mistério e de velas acesas por mãos piedosas à intenção das almas que ali repousavam no Cemitério, depois transformado num quarteirão de habitações particulares. A capela era no meio do Cemitério, na mesma posição em que se encontra a rua, a mesma necrópole antiga. A sua construção data de 1774, ao tempo do Bispo Frei Manuel da Ressurreição, pelo que, cremos, a data, 1869, que na sua fachada se lê, é referência à possível reforma por que passou em época posterior à fundação sob os auspícios de Nossa Senhora dos Aflitos, ou, ainda, à instalação do Cemitério, quando lá existia a igreja, por volta de 1818. Propriedade da Mitra, o Cemitério foi vendido em lotes para residências privadas. A tradição desse cemitério acompanha a do Largo da Forca, eis que era destinado a recolher cadáveres de supliciados e de indigentes, em féretros humílimos, contrastando com a suntuosidade dos funerais faustosos dos burgueses do período monárquico, inumados no interior das igrejas. O Beco dos Aflitos é um dos poucos existentes na cidade e que relembram a nenhuma simetria dos urbanistas de outrora. Beco sem saída, antiquado. Hoje, os da mesma espécie, abertos pela conveniência de senhorios abastados no centro de grandes áreas de terreno, denominam-se vilas. O que foram esses becos sem saída : Beco dos Barbas, hoje Travessa Porto Geral; Beco do Zunega, no Largo do Paissandu e Beco da Boa Morte, nos fundos do Carmo. O dos Aflitos tem sua utilidade para os crentes e para a crença nos destinos sobrenaturais dos que penam no Além. Hoje, temos as capelinhas dos Enforcados e dos Aflitos.







foto: reprodução (também não tirei foto da fachada)

Bom gente, o bairro da Liberdade é lindo e cheio de histórias, e as capelas e igrejas são um passeio a parte, impossível não visitá-las. A Capela dos Aflitos será restaurada e o projeto já foi aprovado, espero que da próxima vez que eu for a São Paulo eu já possa vê-la restaurada para mostrar a vocês. Espero que tenham gostado do post, Beijos!

2 comentários:

  1. lindas as fotos e a história também. Realmente, vc viu muita coisa bonita nessas férias né amiga :)

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    1. As igrejas de São Paulo são lindas, fui também ao Mosteiro de São Bento, mas lá tem seguranças e não é permitido tirar fotos, eu tentei...hihihi É muito lindo, no google você consegue ver algumas fotos.

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